Outono

Outono

4 de fev. de 2012

A história da decisão

Quem pensa que tomar a decisão de mudar de país com dois filhos debaixo do braço é fácil se engana. O que a gente mais ouve é “Ah, mas se fosse comigo eu iria hoje mesmo!”, “Ah, Alemanha é primeiro mundo, bom demais, se fosse comigo eu já tinha ido!”.

Mas com certeza tomar essa decisão não é tão fácil não. Preciso contar a vocês que o texto de abertura do blog foi escrito no dia 5 de agosto de 2010. Nesse dia eu comecei a escrever um “diário” sobre a minha (até então só minha) vontade de me mudar pra uma vida diferente. Era um período difícil na nossa vida, eu estava cansada e me sentindo sem saída. Conversei com o Marcelo (oi, meu marido, pra quem não sabe) e ele até que aceitou a idéia, mas com muito medo, claro. Depois as coisas foram se ajeitando, tudo se tranqüilizou e acabamos ficando como estávamos, mas dentro de mim a vontade de ir embora só crescia. Continuei escrevendo esporadicamente sobre essa vontade, vejam alguns trechos:

5 de agosto de 2010 - ... Ainda estamos vendo se é possível conseguir um empréstimo num banco, ou coisa assim, mas a situação está se complicando...

No meio desse turbilhão todo eu comentei com meu pai sobre meu desejo de ir morar na Alemanha. Meu pai mora lá e aqui no Brasil, e meu irmão e uma prima moram lá já há algum tempo. E meu pai se animou, ele acha que é a melhor solução, que seria bem melhor pras crianças. O Marcelo não quer muito, e eu entendo, pois ele tem primeiro que aprender o alemão, que não é uma língua fácil, pra depois ver do que ele poderia trabalhar lá, ele tem medo da adaptação, essas coisas. Mas ele não descartou a idéia. E na noite passada ele até sonhou que a gente estava morando lá...


29 de setembro de 2010 - ... Os planos da Alemanha estiveram bem frios. Conversando por e-mail com a minha cunhada que mora lá, ela me alertou de toda a dificuldade que seria se fossemos pra lá já. Precisaríamos ir quando o Rafa tiver 3 anos. Antes disso complica...

17 de fevereiro de 2011 - ... O sonho não morreu. Continuo pirada pela Alemanha. Mas não sei dizer sobre o Má. Em janeiro meus tios, que tinham ido recentemente conhecer a Alemanha, foram em casa. O Má puxou papo com eles, e eles disseram que credo, nunca iam morar lá. Que as pessoas são muuuuuito certinhas e chatas. Aí ele desanimou. Disse pra mim que se até meus tios, que falam alemão, não querem ir pra lá, imagina ele!...

1 de março de 2011 - ... Eu quero ir pra Alemanha, já queria estar ensinando alemão pro Má e pra Nina, mas e o medo de falar com o Má e ouvir um não definitivo?
Enquanto eu ainda puder sonhar fico mais feliz. O dia em que o não for definitivo acho que posso ficar deprimida, sei lá.
Não agüento mais ter sempre contas atrasadas, pegar ônibus lotado, andar na chuva com guarda-chuva escangalhado porque não tenho grana pra comprar outro, ter que ficar até tarde fazendo bolo pra vender no trabalho e ganhar uns míseros trocos... Não agüento mais não ter a minha casa, não agüento mais me preocupar com o futuro dos meus filhos, o que será deles? Não agüento mais tudo isso...


24 de outubro de 2011 - ...Nossa, tem tanta coisa acontecendo que eu estou até tonta! O ponto da tomada de decisão está muito próximo! Ontem a minha prima que mora na Alemanha há anos esteve em casa. Conversei um bocado com ela, e basicamente fiquei na mesma, pois deu pra ver que morar lá seria bom mas bem difícil. Meu pai já tinha me falado isso, que seriam uns 2 ou 3 anos de grande dificuldade pra depois viver bem melhor do que hoje. E hoje mais tarde vamos eu e o Marcelo conversar com ele e se tudo der certo, tomar uma decisão definitiva sobre o nosso futuro. Vamos ver!...

08 de novembro de 2011 - ...E tá tudo resolvido e se encaminhando. Frio na barriga. Enfim, conversamos com meu pai e foi muito legal. Ele ofereceu a maior ajuda, inclusive financeira, e decidimos ir mesmo embora do Brasil! Uhuuuuuu!...

18 de novembro de 2011 - ...Nem acredito! Vou com calma agora escrever sobre o que anda acontecendo! Enfim, na véspera do dia das bruxas conversamos de novo com meu pai em casa e ficou decidido, o Marcelo concordou, que vamos embora pra Alemanha. A ideia inicial era que eu fosse com as crianças no começo de março e o Má iria depois, quando a gente já tivesse onde morar lá. Mas estamos tentando ver se não é possível a gente já ir com algo alugado e o Má ir junto de uma vez. Seria bem melhor, começar a vida nova todos os 4 juntos.
No feriado de 2 de novembro contamos pra Nina sobre a mudança. Primeiro ela chorou, depois começou a perguntar sobre a vida lá e se animou. E tem momentos de altos e baixos. Tem horas em que ela chora, e horas em que ela quer ir logo. Realmente, eu penso que se a gente está ansioso, imagina ela! E ontem, dia 17, ela não agüentou, me contou que ela está na verdade se segurando pra que eu não perceba que ela está com medo e triste pela mudança. Que ela tem tido pesadelos com a escola nova, com os colegas novos, com o avião... Que ela chora um pouquinho todas as noites antes de dormir. Tadinha! E se abriu, choramos juntas, eu tentei confortar ela, mostrar que vai ser bom, que ela precisa enfrentar esses medos. Expliquei que ela sempre estudou na mesma escola, fez cursos extra curriculares lá na escola com as amigas dela, e que isso faz com que seja mais difícil pra ela. Ela nunca teve que ser “a aluna nova”, “a diferente”, e agora vai ter que ser tudo isso num país diferente, onde se fala uma língua que ela não entende. Mas eu expliquei pra ela que é bom mudar, justamente pra ela já ir se acostumando com isso, pois a gente tem que enfrentar muitas situações difíceis na vida. Entrar na faculdade, onde só tem gente nova, entrar num emprego e ser “a diferente”, são tantas coisas...
Enfim, conversamos muito e parece que ela se acalmou um pouco. Hoje falei com ela e ela me disse que está bem melhor. Acho que o que estava mais agoniando ela foi o fato dela tentar se mostrar contente pra não me deixar triste e preocupada. Estava muito difícil pra ela! Agora que ela se abriu parece que aliviou.
Mesmo assim, estou pensando em dar pra ela um floral pra ver se ajuda nesse processo todo que vem pela frente. Vamos ver!
Bom, mas esses dias também eu conversei com a minha prima e ela disse que quer ver se ela e meu pai conseguem um apartamento pertinho da casa dela, assim a Marina freqüentaria a mesma escola dos primos (que falam português, o que ajudaria) e eles poderiam viver juntos! Com certeza seria muito bom pra ela. Espero que dê certo!
E eu já estou com uma lista de 20 itens pra resolver antes da viagem. Título de eleitor, passaportes, casamento, check-ups de saúde e dentista, visto, vender o carro, vender nossas coisas, entre outros. Eba! O negócio é organizar pra não se perder!
E devagar estamos contando pros parentes e amigos, e alguns nos encorajam, outros nem tanto...



Bom, esses foram alguns trechos do meu "diário do sonho", se é que eu posso chamar assim. Nem acredito que esse sonho está se tornando realidade. E a mensagem que fica é, claro, nunca desistam dos seus sonhos!

3 comentários:

Ariel Martins disse...

Já estou gostando mais desse blog do que do interferância hehe perdón Dani, mas esse está ótimo!


Abraço


A.

Je disse...

Ótimo vc ter iniciado o blog. Vai ser bom pra vc contar tudo que ta passando e assim tb vai matar um pouco a saudade que a gente vai ficar de vc!
Estarei acompanhando sempre!
Boa sorte nesso nova vida!
Beso

Ana Gaspar disse...

Oi...
Nossa fui lendo este post e fui chorando... imagino como sua filha deve estar...
é a parte mais dificil, pois desde novembro estou morando com meus pais (devido ter alugado meu apartamento) e a Valentina é grudada nos avós.
Ai vou sentir muitas saudades deles...
Ela também fala da escola dela, que sente saudades da tia das coleguinhas, é fogo ver a filhinha sofrer...
mas, estou adorando saber da sua história e sua decisão!
bj